ARTIGO – Advocacia Criminal: Técnica, Coragem e Humanidade
“O que aprendi nos corredores dos fóruns, nas madrugadas de júri, no olhar das famílias e na dor dos acusados, nenhum livro me ensinou. A cada caso, aprendo que ser advogado criminalista é, antes de tudo, ser humano.”

Entre a frieza do processo e o calor da dor humana, o advogado criminalista resiste, escuta e luta onde a justiça nem sempre alcança todos
Sou advogado criminal porque acredito que toda pessoa tem o direito de ser ouvida — mesmo no silêncio mais profundo da dor. Escolhi caminhar onde muitos recuam, porque ali está a essência da liberdade, da justiça e da dignidade.
Mas é preciso dizer com todas as letras: a justiça, infelizmente, ainda não é para todos. O sistema penal é seletivo. Ele tem cor, tem classe, tem alvo definido. E quem mais sente esse peso são os pobres, os negros, os periféricos — os esquecidos das políticas públicas e lembrados apenas nas estatísticas de encarceramento.
Atuo em todo o Brasil. Moro em Goiânia, mas tenho causas espalhadas em diversas cidades, incluindo processos marcantes em Catalão, onde o clamor popular muitas vezes tenta se sobrepor ao direito. Já vi, com meus próprios olhos, a força do julgamento antecipado feito pelas redes sociais e pela opinião pública, pressionando decisões antes mesmo de qualquer sentença. É nesses momentos que a técnica precisa resistir — e a coragem precisa aparecer.
Quantas vezes já atendi ligações aflitas de famílias desesperadas, sem saber a quem recorrer? Quantas vezes ouvi: “Doutor, não tenho como pagar, mas meu filho está preso e eu preciso de ajuda”? Já perdi as contas. Já abracei causas no silêncio do probono, não por vaidade, mas porque aquilo gritava por justiça. Porque, para mim, o processo não é número: é vida, é dor, é história.
A advocacia criminal é arte. Arte de resistir com palavras, de reconstruir verdades, de enfrentar o poder com coragem e compaixão. Defender é pintar, todos os dias, o contorno da humanidade dentro de um processo. É transformar técnica em esperança, e o direito em abrigo.
Mas não basta saber o direito. É preciso saber falar. A palavra é a principal arma do criminalista. É por isso que estudo oratória com a mesma seriedade com que estudo jurisprudência. Porque não se convence apenas com razão — convence-se também com emoção. E quem não sente, não defende.
Vivemos tempos em que aquilo que se aprende na faculdade já não basta. O que aprendi nos corredores dos fóruns, nas madrugadas de júri, no olhar das famílias e na dor dos acusados, nenhum livro me ensinou. A cada caso, aprendo que ser advogado criminalista é, antes de tudo, ser humano.
E é por isso que sigo. Porque acredito que a nossa voz, mesmo soando sozinha, pode romper o silêncio da injustiça.