VÍDEO POLÊMICO – Maraisa: não basta apagar. Brasil espera um pedido de desculpas.
Por ignorância ou burrice, cantora promove exclusão conectando pacientes de borderline à falta de caráter.
Por Alessandro Lo-Bianco*
|A carreira de Maiara & Maraísa foi impulsionada por letras que tocaram o público ao retratar, com precisão, dilemas emocionais e relações tóxicas. Elas acertaram em cheio, por exemplo, ao denunciar, em canções anteriores, comportamentos típicos de narcisistas perversos — pessoas com desvios de caráter que causam danos reais em relações afetivas. Contudo, ao tentar repetir a fórmula em um novo vídeo, Maraisa cruzou a linha do aceitável ao misturar, de maneira irresponsável, transtornos psiquiátricos com perversidade moral.
No vídeo polêmico, a cantora sugere que pessoas diagnosticadas com transtorno de personalidade borderline seriam sinônimo de problemas de caráter em relacionamentos amorosos. Trata-se de uma associação infeliz, preconceituosa e absolutamente desinformada. Borderline é um transtorno grave de ordem emocional, e não um indicador de mau-caratismo. A fala — ou a canção — de Maraisa não apenas banaliza a dor de milhares de pessoas que enfrentam esse transtorno como também perpetua estigmas que reforçam o isolamento social dessas vítimas em vez de promover mecanismos de inclusão. E, se tratando de uma dupla de tamanha inflência perante o público, apagar o vídeo apenas não será suficiente pra remendar o rombo na costura.
A reação foi imediata e correta: especialistas em psiquiatria apontaram que esse tipo de conteúdo poderia até configurar crime, ao fomentar preconceito contra pessoas com deficiência psíquica, o que é vedado por lei. Diante da repercussão negativa, Maraisa apagou o vídeo de suas redes sociais. No entanto, excluir a postagem não basta. Quando se ocupa um espaço de influência tão grande, o erro cometido publicamente precisa ser corrigido com igual publicidade. Assista ao vídeo.
Falta agora a Maraisa a coragem de reconhecer que cometeu um erro grave. Um pedido público de desculpas, acompanhado de um esclarecimento firme sobre o que realmente é o transtorno de personalidade borderline, é o mínimo que se espera de alguém que se propõe a falar para milhões. É fundamental deixar claro para os fãs — muitos deles jovens em formação — que o sofrimento psíquico não se confunde com caráter e que pessoas com transtornos emocionais merecem acolhimento, não discriminação.
A música tem poder para curar, conscientizar e incluir. Mas também tem o poder — quando usada de maneira leviana — de ferir e marginalizar. Se Maraisa não compreender isso com um pedido de desculpas, continuará contribuindo para uma cultura de exclusão que tanto prejudica aqueles que mais precisam de compaixão. A responsabilidade de quem fala para multidões é imensa, e ignorá-la é tão grave quanto o preconceito em si. O silêncio agora só potencializará ainda mais o seu erro. O Brasil e, principalmente milhares de pacientes que sofrem deste transtorno, bem como amigos e familiares – todos atingidos – aguardam ansiosamente uma retratação.
*FONTE: IG