Conclusão de estudo: Tuberculose é vilã da Humanidade desde seu surgimento

A bactéria causadora da tuberculose, doença que resiste como uma das mais letais da nossa espécie, é também das vilãs mais antigas da Humanidade. Um estudo do genoma da Mycobacterium tuberculosis publicado na revista “Nature Genetics” estima que a tuberculose emergiu há 70 mil anos, junto com os primeiros humanos do continente africano com as características anatômicas que temos atualmente.

O Globo

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,4 milhão de pessoas morreram por causa da doença em 2011. No Brasil, a cada ano, são notificados aproximadamente 70 mil casos novos e ocorrem 4,6 mil mortes. O Brasil ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de tuberculose no mundo, segundo o Ministério da Saúde.
Para o estudo do genoma da micobactéria da doença, foi feita a análise detalhada de mais de 250 cepas do micro-organismo. Os cientistas concluíram também que a tuberculose se espalhou a partir da África, assim como foi a origem da migração humana pelo planeta.
“Nós descobrimos que a tuberculose estava infectando os seres humanos antes que eles deixaram a África cerca de 70 mil anos atrás. Isto implica que as bactérias foram capazes de sobreviver em pequenas populações de caçadores-coletores” disse Iñaki Comas do Centro de Pesquisa em Saúde Pública, em Valência, autor principal do estudo ao jornal inglês “The Independent”.
O cientista espanhol também explica que a evolução da bactéria da tuberculose não só caminhou junto com os humanos como também imitou o seu ritmo. Beneficiou-se com os períodos de explosões demográficas. Tanto durante o Neolítico, com a invenção da agricultura e, mais tarde, com a Revolução Industrial. A estimativa era de que a tuberculose pulmonar surgiu quando os humanos passaram a domesticar animais e se aglomerar em cidades, onde a micobactéria consegue se espalhar mais facilmente, há 12 mil anos, mas a nova teoria desmente a hipótese mais provável até então.
Outras três pesquisas publicadas na mesma edição da “Nature Genetics” sobre o genoma da tuberculose revelou a natureza das mutações genéticas que levam a bactéria a tornar-se resistente aos antibióticos. Descobrir tal mecanismo pode ajudar pesquisadores a elaborar melhores estratégias para bloquear o surgimento de cepas resistentes. A conclusão é de que a resistência aos medicamentos mais comuns para tratar tuberculose está ligado a associação entre 39 genes.
Apesar de só perder mundo para a Aids em letalidade, a tuberculose está no grupo dos males classificados pela comunidade científica como “doenças negligenciadas”. No Brasil, de acordo com estudo publicado ano passado pela revista científica “Plos One”, o conhecimento científico gerado sobre a infecção não se traduz em drogas e tratamentos. E o pior é que os remédios usados hoje são muito antigos, com pelo menos 50 anos, e não estão mais dando conta das variedades mais graves da enfermidade.
Levantamento feito por Alexandre Guimarães Vasconcellos, do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), e Carlos Morel, da Fiocruz, revela que, nos últimos 15 anos, a produção de artigos científicos sobre tuberculose no país aumentou nada menos que 12 vezes, bem acima da média global. Levando-se em conta tudo o que foi produzido no mundo sobre a doença, a participação nacional sobre o tema passou de 1% para 5%. A capacidade inovadora do país, no entanto, não acompanhou a produção de conhecimento. Entre 1995 e 2012, foram feitos somente 18 pedidos de patentes. Desse total, oito se perderam pelo caminho ou foram indeferidos.

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