MEDICINA MODERNA – Em cirurgia inédita, mulher recebe coração mecânico e rim suíno

Essa é a primeira vez que uma pessoa com bomba cardíaca recebe transplante de qualquer tipo; e a segunda que um rim suíno modificado é colocado em pessoa viva.

Por Redação Galileu**

O NYU Langone Health, centro hospitalar acadêmico nos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (24) a realização de uma cirurgia sem precedentes: médicos da instituição realizaram a primeira cirurgia de aplicação de uma bomba cardíaca mecânica e de transplante de rim de porco editado geneticamente em uma mesma pessoa.

Feito em uma mulher de 54 anos com insuficiência cardíaca e renal considerada terminal, o procedimento pode ser considerado um marco na medicina moderna. A cirurgia foi separada em dois momentos, realizados em um intervalo de nove dias. No primeiro, foi implantada a bomba cardíaca; depois, o xenotransplante – nome dado ao transplante de órgão entre espécies diferentes.

Na primeira cirurgia, a equipe médica colocou um dispositivo de assistência ventricular esquerda (LVAD), a bomba cardíaca, que funciona descarregando o ventrículo esquerdo e direcionando sangue para a aorta. O LVAD é normalmente usado em pacientes que aguardam um transplante cardíaco ou que são considerados inelegíveis para tal. Ele foi colocado de maneira emergencial, já que, sem o dispositivo, Lisa teria sua expectativa de vida reduzida em dias.

Fotografia do procedimento do transplante do rim suíno geneticamente modificado, no dia 12 de abril de 2024 — Foto: Joe Carrotta/NYU LANGONE HEALTH

O método foi utilizado porque Lisa Pisano, a paciente em questão, não se encaixava nos critérios para ingressar na fila de transplantes. Por conta de condições crônicas, as estatísticas de sucesso dos procedimentos eram reduzidas. Dessa forma, ela se tornou uma candidata para esse inédito feito médico.

Oito dias depois, a segunda cirurgia foi realizada. O cirurgião Robert Montgomery, responsável pelo procedimento, abordou a United Therapeutics Corporation, empresa do campo da biotecnologia, e determinou que um rim de porco experimental editado por genes estava disponível e era compatível. “Sem a possibilidade de um transplante renal, ela não teria sido elegível como candidata a um LVAD devido à elevada mortalidade em pacientes em diálise com bombas cardíacas”, diz Montgomery, em comunicado.

Foi selecionado um rim suíno geneticamente modificado para “eliminar” o gene alfa-gal, responsável pela produção de açúcar. Sua remoção é uma precaução para evitar a reação de anticorpos, gerando rejeição do corpo pelo novo órgão trasplantado. Além disso, a glândula timo do porco doador, responsável por regular o sistema imunológico, foi colocada cirurgicamente sob a cobertura do rim para reduzir ainda mais a probabilidade de reação.

Esta intervenção complexa marca a sexta cirurgia de xenotransplante humano realizada pelo NYU Langone Transplant Institute e orquestrada por Montgomery. O médico foi o responsável pela primeira cirurgia de transplante de porco com edição genética do mundo, em 25 de setembro de 2021.

Até agora, não existe registro de pacientes com LVAD que tenham recebido qualquer tipo de transplante. Esse é apenas o segundo transplante conhecido de um rim de porco geneticamente modificado para uma pessoa viva, sendo o primeiro com o timo combinado.

“Ao usar porcos com uma única modificação genética, podemos compreender melhor o papel que uma mudança estável e chave no genoma pode ter para tornar o xenotransplante uma alternativa viável”, conta Montgomery. “Uma vez que esses porcos podem ser criados e não requerem clonagem como edições genéticas mais complexas, essa é uma solução sustentável e escalonável para a escassez de órgãos. Se quisermos começar a salvar mais vidas rapidamente, usar menos modificações e medicamentos será a resposta.”

***FONTE: Revista Galileu

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