Entrevista/Josaquim Miranda – Prefeito de Teresina de Goiás – “São muitos os desafios que enfrentamos para trazer desenvolvimento para nossa comunidade”.

Herdeiro de duas desastrosas gestões, o prefeito de Teresina de Goiás, Josaquim Miranda (PT), diz que já sabia que encontraria dificuldades para colocar a administração nos eixos, mas, afirma ele, tudo que parecia ruim, está bem pior.
Em entrevista exclusiva ao jornal O VETOR, Josaquim relata conquistas e desafios.

 Prefeito Josaquim Miranda
Prefeito Josaquim Miranda

Roberto Naborfazan*

O VETOR – Prefeito, quantas escolas tem o município e como estão funcionando? Os alunos estão recebendo a merenda escolar? Como está o transporte dos alunos?
Josaquim Miranda – Nós temos três escolas municipais. Duas na sede e uma na zona rural. Os alunos, tanto das escolas municipais, quanto do colégio estadual, usam o transporte escolar, que tem sido uma de nossas principais preocupações na área da educação. Temos quatro ônibus, mas dois ônibus estão quebrados. Nossa frota é muito antiga e há uma recomendação do FNDE ( Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) de que não podemos contratar, para o transporte escolar, veiculo a diesel com mais de dez anos de uso, mas a prefeitura pode ter carro com mais de 20 anos de uso. Não conseguimos entender porque a prefeitura pode contratar esses veículos em todas as outras áreas e não pode para o transporte escolar. Não estamos nem transportando internamente, na cidade, os alunos, porque não tem como transportar. Estamos improvisando, com outro tipo de ônibus, para fazer o transporte escolar na zona rural.
O único ônibus que está funcionando é o que o FNDE doou, porque os outros têm ate mais tempo de uso do que deveria, do que é recomendado. Inclusive teremos que passar por uma vistoria do Detran agora e não sei como vamos fazer, porque não pode ter veiculo com mais de dez anos de uso.
Os alunos estão recebendo a merenda escolar nos horários corretos e com boa qualidade, mas estamos enfrentando dificuldade. As prestações de contas de 2011 e 2012 não foram feitas e todos os documentos foram levados ou destruídos. O ex-prefeito carregou todos os documentos. De julho pra cá, nós não temos nenhum processo e nem um balanço final. As informações que tenho são do Tribunal de Contas dos Municípios, o que eu vejo é só através do balanço, mas papel eu não tenho. Então a merenda foi bloqueada. Fui a Câmara dos Vereadores e expus a situação. É obrigação deles (ex-gestores) fazer isso, como não fazem, mesmo com insistentes pedidos, fiz a denuncia contra o ex-prefeito ao Ministério Público Federal e para a Procuradoria Geral do Estado.

OV – Sabemos das grandes necessidades da comunidade em setores básicos. Como estão as ações na Assistência Social?
JM – A OVG (Organização das Voluntárias de Goiás), através de sua presidente, Valéria Perillo, tem sido parceira em tudo. Cadeiras de rodas, cadeiras de banho, enxovais, em tudo. Cobertores eu não peguei, o ex-prefeito conseguiu através de uma funcionaria do estado, usando meu nome sem a minha autorização, foi lá e pegou cerca de 120 cobertores e eu não recebi. O ex-prefeito pegou e não distribuiu para o povo. Recebemos 60 cobertores que nos foram entregues pela deputada estadual Sonia Chaves, que veio ao município entregar em nossas mãos.

OV – Na área da saúde, quais são as maiores dificuldades? O que vocês já conseguiram fazer funcionar na contra partida do município?
JM – A grande dificuldade nossa em relação a saúde são os exames e os atendimentos de maior complexidade, porque temos que mandar as pessoas para fora, ou Goiânia ou Brasília, então o custo dessa viagem fica muito alto.

OV – Esse programa do governo federal o Mais Médicos, vocês se inscreveram?
JM – Nós nos inscrevemos. Mas infelizmente só tinha um candidato que passou no vestibular do Rio de Janeiro e não veio. Mas agora parece que com os médicos estrangeiros seja possível que venha um para cá. Eu inscrevi para que o município tivesse um médico.

OV – Notamos que às vezes o município tem uma estrutura hospitalar, mas não tem os equipamentos, ai o médico vem e vê que não tem condições adequadas de trabalho e desiste. Há alguma intenção de trabalho para que possa melhorar o atendimento hospitalar para que o paciente seja atendido aqui e diminuir a chamada ambulância-terapia?
JM – Olha o sonho da gente é esse. Se eu conseguir resolver os nossos problemas. Infelizmente, 85% dos acidentes da GO 118 ocorrem no município de Teresina. Mas o que temos aqui é uma unidade do Programa Saúde da Família (PSF), que realiza apenas o serviço de ambulatório. O acidentado vem até nos e temos que correr para chegar com ele até Brasília ou Goiânia. Para se ter uma ideia, até hoje os partos tipo cesariana não podem se realizar aqui, somente o parto espontâneo (normal). A maioria das certidões de nascimento de nossos cidadãos é de Cavalcante ou Campos Belos. Aqui nos não podemos nem ter paciente tomando soro, mas eventualmente nos fazemos.

OV – Então a população com doença mais grave tem que procurar outro município para atendimento?
JM – Nós só recebemos verba federal para um profissional, mas temos dois. Inclusive nos pagamos muito mais para esses dois, porque além do atendimento do ambulatório que eles fazem durante a semana, de segunda a sexta, eles fazem os plantões no final de semana e a noite. Então hoje, nos pagamos para um medico em torno de 23 mil e para o outro 19 mil. Porque esse de 23 mil tem um equipamento que ele faz alguns exames aqui, como o ultrassom e o eletrocardiograma por exemplo. Esse salário a mais seria pelo equipamento e para evitar o uso das ambulâncias. Inclusive ele tem atendido até o pessoal de Cavalcante também.

OV – Quer dizer que os olhos da Secretaria de Saúde, para o município de Teresina, continuam fechados?
JM – Eu estive lá e pedi uma resposta para minha solicitação de equipamentos para um hospital. Eles me disseram que eu tinha um PSF, o que limita a quantidade de equipamentos. Argumentei que temos um PSF, mas que na verdade trabalhamos como um hospital e atendemos 24 horas, mas parece que isso não os sensibiliza. Não posso deixar de atender o povo, principalmente na hora da doença, eu tenho que cumprir o compromisso que tenho com o povo, apesar de algumas leis absurdas.

OV – Eles acham melhor diminuir o atendimento para o povo, por causa das “regras”?
JM – Eles querem limitar o atendimento ao ambulatorial. Inclusive eu tive a promessa da Vigilância Sanitária Estadual de fechar o nosso PSF porque eu não podia estar trabalhando nas condições que eles exigiam. Ai eu pedi um prazo de três meses para me adequar, fiz a escritura, arrumei tudo, mandei fazer uma limpeza e fiz o que tinha que fazer para adequar ao que pediam, ou seja, recebi uma bagunça, mas arrumamos e continuamos a atender nossa gente.

OV – Teresina de Goiás tem uma área extensa, com comunidades Quilombolas inclusive, como estão estradas, pontes, caminhos para a zona rural?
JM – Estamos com duas pontes grandes atravancando nossa caminhada, uma sendo recuperada e a outra totalmente parada. Eu recuperei cinco pontes até agora, são aqui da região da Água Fria, do Mosquito, do Chiqueiro, Caiçara e do Coco, e estamos arrumando agora a da Ema. Tem a ponte lá na Abobreira, na estrada que liga a Ouro Minas, que não tem condições de dar passagem, por que as madeiras estão caindo. Quem passa para Vão do Moleque, tem que passar dentro d’água.

OV – Quando o senhor diz que está arrumando essas pontes, está fazendo o que exatamente? São estradas vicinais sob cuidado do município ou do estado?
JM – Estou trocando as madeiras. Os proprietários de terras da região cederam as madeiras, porque as das pontes estão podre, isso de toda a região Kalunga.
As pontes estão em estradas sob nossa responsabilidade e também da AGETOP, parte é do estado e parte do município. O estado até agora só falou em ajuda por telefone.

OV – O que o senhor acha que deve ser levado, como preocupação do município, para as autoridades do estado?
JM – Nós estamos passando por um problema de segurança pública sério. Assaltaram os Correios de nossa cidade e assaltaram o Banco do Brasil em Cavalcante. Em Monte Alegre assaltaram um banco e lá também não tem policial. Em Teresina temos seis policiais, que existem no papel, mas na prestam serviço aqui. Quando eles estão de folga até encontramos eles na cidade. Nossa administração já reformou a cadeia, mas você não vê nenhum policial lá trabalhando. Parar de pedir eu não vou. Eu sei que tem o lado político das coisas, mas o governador Marconi Perillo tem que ter preocupação social com o estado e com o município. Teresina de Goiás, nesse nosso inicio de governo, está tendo muito pouco retorno em suas reivindicações e necessidades.
OV – Na política local, Como está sua relação com a Câmara de Vereadores?
JM – Eu não posso reclamar de nada da Câmara dos Vereadores, tem sido nossa parceira. Porque, na verdade, não estou pedindo nada para mim, mas para o povo, para diminuir as dificuldades que ele vem enfrentando. Como dependemos do Estado e da União, então temos buscado a regulamentação de leis para que possamos fazer parte dos programas e a Câmara tem aprovado tudo, visando também o progresso e desenvolvimento de nossa comunidade.

OV – Qual a sua expectativa no que se refere ao consorcio intermunicipal, que unirá São João D’Aliança, Alto Paraíso, Colinas do Sul, Teresina de Goiás e Cavalcante nas reivindicações junto aos governos estadual e federal? Qual sua visão da importância do ICMS Ecológico?
JM – Como prefeito de Teresina, represento em torno de três mil pessoas e os governantes não dão atenção. Mas se chegamos como representantes do consorcio, representando 50 mil eleitores, teremos mais peso e as pessoas vão nos olhar com mais atenção. Com o consorcio, falaremos em nome de cinco municípios. Porque, infelizmente, os nossos políticos estão todos preocupados com votos e não com o que o povo está passando, principalmente os das áreas mais carentes. Sobre o ICMS Ecológico, nós, municípios integrantes do consorcio, temos um grande obstáculo, que é a área de proteção ambiental e a dos parques. Os nossos produtores tem limitações para plantar, eles não podem desempenhar qualquer função em sua propriedade, isso porque a nossa região tem certas limitações. Não podemos agir como Rio Verde age, como Cristalina age. As regiões que estão fora dessa área ambiental têm liberdade total para qualquer atividade. Falamos isso para o nosso governador e ele se mostrou sensível, disse que no ano que vem deve liberar mais 2,5% do orçamento do estado para o ICMS ecológico. Nós pedimos 5%, mas o governador só liberou 2,5%. Se fizer isso já é alguma coisa em termo de recuperação do tempo perdido, porque estamos travados em função de proteção ambiental. Nós temos muitas limitações e os investimentos não vêm pra região. Teresina de Goiás é um dos municípios da região que tem 95% de área preservada e não recebemos nada por isso.

 

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