ampos Belos: Recuperação de nascentes pode ser solução para água doce

A dureza da água potável (salobra) sempre foi motivo de desgosto para a população de Campos Belos e mote dos políticos da região para angariar votos. A cada eleição, novas e renovadas promessas de solução para o problema são levadas à comunidade, que fica sempre no “dessa vez, vai”, e nunca se concretiza.

Roberto Naborfazan

A grande promessa, sempre repetida nas campanhas eleitorais, é a transposição, através de dutos subterrâneos, das águas do Rio Mosquito para abastecer a população camposbelense. Ação de custo elevado, mas que é o sonho de uma comunidade que já teve a chamada água doce em sua porta, contida nas várias nascentes transformadas em córregos, perdida pelo descaso das autoridades e pela falta de informação da própria população. Há pouco mais de três décadas ainda se bebia das águas daquelas nascentes e pescava-se nos córregos.
Na administração de Neudivaldo Sardinha (2009/2012), com apoio do governo estadual, através da SANEAGO, amenizou-se o problema com a aquisição de maquinário que possibilitou o quebrantamento da dureza da água, tornando-a mais próxima da água doce, ou seja, menos salobra. Chama-se água salobra àquela que tem mais sais dissolvidos que a água doce, mais ou menos parecido com a água do mar. Tecnicamente, considera-se água salobra a que possui entre 0,5 e 30 gramas de sal por litro. A dessalinização da água tem, no entanto, um custo mensal elevado para o erário, que se reflete no consumidor final. A população de Campos Belos paga duas vezes pela melhoria da água; primeiro pela dessalinização, depois para consumir.
No momento em que se fala na chegada de aproximados R$ 30 milhões aos cofres do município para solucionar o problema da água potável – Em reunião no dia 22 de outubro de 2012 a senadora Lúcia Vânia anunciou o repasse de R$ 15 milhões ao município para esse fim, e no inicio deste mês de fevereiro, fontes extraoficiais ligadas a prefeitura de Campos Belos, anunciaram a conquista de mais R$ 15 milhões junto ao governo estadual – Ao mesmo tempo em que um grave acidente ecológico empurrou grande quantidade de lama tóxica (analises ainda devem ser feitas para comprovar ou não a contaminação), para muito próximo de sua nascente e pode ter comprometido a qualidade da água do Rio Mosquito, faz-se necessário, na opinião de ambientalistas e da comunidade como um todo, um amplo debate sobre o tema, visando a melhor utilização desse recurso, de forma a solucionar o problema com a água potável e, ao mesmo tempo, recuperar as nascentes destruídas ao longo de tantos anos de descaso.
Militante na defesa do meio ambiente, com curso preparatório na área de Gestão Ambiental, o funcionário público Evônio Madureira luta, há décadas, pela recuperação das nascentes dos rios que cortam Campos Belos ”Recuperar ou proteger uma área de nascente, além de ser um ótimo investimento ambiental, ajuda a garantir o fornecimento de água e a manter a biodiversidade local. Para ter sucesso, porém, a tarefa precisa ser bem planejada e ter acompanhamento técnico adequado. Por melhor que seja a intenção, deve-se, antes de qualquer intervenção, buscar parcerias juntos aos órgãos ambientais competentes para obter autorização, orientação e respaldo técnico para o projeto”, afirma Evônio.
Ele explica que as nascentes são áreas onde há o afloramento do lençol freático e abastecem córregos, rios e reservatórios. “Elas podem estar localizadas em encostas ou nas porções mais baixas do terreno e muitas vezes ocorrem ao longo de cursos d’água. Podem ser perenes ou temporárias e são locais bastante sensíveis” frisa.
Em novembro de 2007, com apoio da então Promotora de Justiça de Campos Belos, Doutora Patrícia Almeida Galvão, Evônio Madureira fez um vasto estudo sobre a situação das nascentes e sugeriu a presença de agentes dos órgãos ambientais para estudo de recuperação das mesmas, no que foi solenemente ignorado pelos gestores municipais, e, com a saída da promotora do município, o estudo foi “engavetado”. (Veja no quadro um resumo do estudo sobre as nascentes).
Com a dificuldade encontrada durante décadas em transpor as águas do Rio Mosquito, e agora com sua possível contaminação, a chegada desses recursos e sua utilização, são temas que precisam ser exaustivamente debatidos em audiências públicas, com presença do prefeito e seu secretariado, ambientalistas, Ministério Público, SEMARH, IBAMA, SANEAGO, membros da sociedade organizada e da comunidade como um todo.
A recuperação das nascentes, e a provável utilização de suas águas como fonte abastecedora da comunidade local, não encerra o trabalho realizado pela SANEAGO no município, esclarece um veterano funcionário da estatal, que prefere não se identificar. Segundo ele, mesmo com a possível canalização oriunda do Rio Mosquito, a captação das águas do Rio Montes Claros continuará. “já enfrentamos hoje uma espécie de racionamento, com constantes falta de água em bairros de nossa cidade, a demanda é crescente, então será muito bem vinda qualquer ação que possa revitalizar as nascentes existentes, que serviriam como suporte dos reservatórios captados do Rio Mosquito e dariam folego ao já desgastado sistema de captação do Rio Montes Claros”, afirma.
Um importante alerta feito tanto por Evônio quanto pelo funcionário da Saneago, é que muitas pessoas estão utilizando, através de pequenas canalizações ou enchendo vasilhas, a água doce dessas nascentes que podem estar contaminadas, mesmo com a aparência límpida. Para isso é preciso que as pessoas, no mínimo, fervam a água antes de utiliza-la.
Ao abordar o assunto, o Jornal O VETOR busca trazer para o seio da comunidade regional a importância de se debater com extrema urgência a situação do abastecimento de água potável em curto e médio prazo, assim como, junto a sociedade organizada e autoridades responsáveis, fiscalizar a utilização dos recursos disponibilizados para essa área. Estamos abertos através dos endereços www.ovetor.com.br / ovetor@ibest.com.br e facebook.com/jornal.ovetor.goias a participação da sociedade, com artigos e sugestões, no enfrentamento de um problema, que, se não tratado com a devida seriedade e competência, trará, em pouco tempo, sérios danos a saúde da população.

”Recuperar ou proteger uma área de nascente, além de ser um ótimo investimento ambiental, ajuda a garantir o fornecimento de água e a manter a biodiversidade local. Para ter sucesso, porém, a tarefa precisa ser bem planejada e ter acompanhamento técnico adequado. Por melhor que seja a intenção, deve-se, antes de qualquer intervenção, buscar parcerias juntos aos órgãos ambientais competentes para obter autorização, orientação e respaldo técnico para o projeto”.
Evônio Madureira.

Leia trecho do estudo realizado pelo ambientalista Evônio Madureira, respaldado pela então promotora local, Patrícia Almeida Galvão, em novembro de 2007:

Tendo em vista o entendimento deste Ministério Público e a Associação de Defesa ambiental – OSCIP, abaixo relaciono e descrevo as principais nascentes de água doce da área interna da cidade de Campos Belos, para os devidos fins de cumprimento da Lei Federal n° 7.803, de 18 de julho de l989.

1. Nome: Nascente do “Morro da Cruz”
Localização: Setor Cruzeiro – Saída para Arraias
Descrição: O nascedouro da mina está cercado e represado (construção de caixa d’água) dentro de uma propriedade particular. A água é encanada para o meio da rua, onde serve de abastecimento para consumo dos moradores locais.

2. Nome: Nascente do “Córrego Cachoeirinha”
Localização: Setor Tomazinho – Vila Esperança – saída para o lixão.
Descrição: Existem dois Olhos D’Água represados por tijolos e manilhas, o que impede o curso d’água que forma o córrego “Cachoeirinha”. Em seus arredores, a mata ciliar foi totalmente destruída, e, em seu lugar existe plantio de roça e criação de gado. Existem também construções de alvenaria (residências) e fossa negras a menos de 10 metros da nascente. As fossas negras contribuem para poluição dos lençóis freáticos.

3. Nome: Nascente do “Morro das Almas”
Localização: Setor Tomazinho – Rua do Fórum
Descrição: Esta nascente é uma das únicas que ainda preserva em alguns pés de buritis nativos, que ajudam na preservação das minas. Por outro lado, a menos de 30 metros do nascedouro d’água, a mata foi destruída e em seu lugar foi plantado capim para criação de gado. Existem também uma grande lagoa (poluída) e uma pequena barragem (seca) onde a água era represada para consumo dos moradores locais. A poucos metros da nascente, existe uma caixa d’água, que recebe água encanada da nascente que serve para consumo dos moradores locais. A nascente é privilegiada pelos lindos pés de buritis e a beleza cênica do Morro das Almas, constituindo em uma bela vista de Cartão Postal da cidade. Local apropriado para criação do Parque Ecológico Municipal.

4. Nome: Nascente do Morro dos Buritis
Localização: Setor Aeroporto II – Fundos da UEG e Colégio Dom Alano
Descrição: Nesta nascente existem vários Olhos D’Água, alguns represados por manilhas e caixas d’águas, canalizando a água através de mangueiras para consumo dos moradores locais. Os Olhos D’Água represado tem água limpa a céu aberto, servindo de local para reprodução do mosquito da dengue. Em outros, coberto por lonas pretas, servem para acumular lixo, criando vermes de tipos não conhecidos. Nota que as águas desta nascente não servem para consumo humano devido o alto grau de poluição. Verifiquei também as construções dentro da área da nascente, bem como plantio de roça de toco a menos de 05 metros da nascente.

5. Nome: Nascente do “Morro dos Macacos”
Localização: Setor de Indústria – Próximo ao Loteamento “Portal da Serra”
Descrição: A nascente fica próxima a encosta do Morro dos Macacos. Na mina principal foi construída uma grande caixa d’água que serve para consumo dos moradores locais. Em seu arredor, a mata ciliar foi 100% destruída para construção de casas. Existem apenas dois Olhos D’Água a céu aberto, um deles não brota mais água, só quando chove, no outro ainda brota água, porém as poucas árvores próximas a ela estão sendo destruídas para dar lugar a um loteamento. A área da nascente é quase toda brejo, impróprio para loteamento, mesmo assim o terreno é drenado e as árvores cortadas. A poucas árvores que sobreviveram estão sendo queimadas vivas.

6. Nome: Nascente da “Lagoa do Jacaré”
Localização: entre setores Aeroporto I e II.
Descrição: A nascente está em área particular, protegida por cerca, em bom estado de conservação.

7. Nome: Nascente das Tabocas
Localização: Setor Aeroporto II
Descrição: Nasce na encosta da Serra do setor Aeroporto II, destruída por construção de casas feitas em alvenaria, o lençol freático está comprometido pelo excesso de fossas negras.

 

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