CAMINHO PARA O DESENVOLVIMENTO – Empresa recebe autorização para reconstruir Ferrovia Bahia-Minas, desativada em 1966.

Quase 57 anos após ser desativada, a Ferrovia Bahia-Minas deve ser reconstruída e reativada. Pouco investimento na manutenção e expansão ferroviária levaram ao sucateamento de um de um meio de transporte onde, algumas décadas atrás, as estações ferroviárias eram encarregadas por transportar mais de 100 milhões de pessoas (atualmente esse número não passa de um milhão e meio).

Roberto Naborfazan**

Em um país com dimensão continental como o Brasil, o governo federal tem que investir, e incentivar investimentos privados, no modal ferroviário.

Nos tempos atuais, o transporte ferroviário intermunicipal e interestadual de passageiros tem que ser planejado, construído e executado com urgência, em proporção igual ou maior ao que se investe no transporte ferroviário de cargas, para aliviar a sobrecarga no modal rodoviário e dar maior conforto e tranquilidade ao ir e vir do cidadão brasileiro.

Investir em ferrovias é o caminho para o desenvolvimento com segurança, maior velocidade, menor custo, geração de empregos e sustentabilidade. FOTO: Beth Santos (Secretaria-Geral da PR)

O transporte ferroviário intermunicipal e interestadual de passageiros gera desenvolvimento econômico em diversas frentes, entre elas estão a redução do consumo de combustíveis para automóveis, a diminuição de gastos com manutenção de rodovias; menor número de acidentados, o que leva a menor gasto no sistema de saúde pública e a vantagem que se tem sobre o turismo proporcionado pelos trens. Funcionando quase como um “bônus” na viagem, o trem pode se tornar facilmente uma experiência diferenciada.

Funcionando quase como um “bônus”, a viagem de trem pode se tornar facilmente uma experiência diferenciada, tanto para o cotidiano, quanto para o turismo.

No resumo, o transporte ferroviário traz maior segurança, maior velocidade, menor custo, geração de empregos e sustentabilidade.

No Brasil, algumas décadas atrás, as estações ferroviárias eram encarregadas por transportar mais de 100 milhões de pessoas (atualmente esse número não passa de um milhão e meio). No começo do século passado era bastante comum se transportar passageiros via bonde e trens interurbanos.

Chegando até mesmo a cruzar diversos estados, com foco nas cidades mais desenvolvidas do sudeste do país (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro), os projetos de trens de passageiros no Brasil foi algo que se perdeu. Muito disso por conta de um projeto de governo que não foi concluído, sabotado diversas vezes por mudanças repentinas de organização política no país.

Ponto final nos anos 1940, estação do distrito de Alfredo Graça (MG). FOTO: Beto Novaes. (EM/D.A.Pres)

O trem Vitória – Minas ou Trem da Vale, que liga Belo Horizonte (Minas Gerais) a Vitória (Espírito Santo) é o único trem de passageiros do Brasil que faz viagens de longa distância diariamente. O trajeto tem 664 km e é feito em cerca de 12h, para quem quer viajar.

Já no transporte de cargas, as vantagens são ainda maiores, provocando o aumento da capacidade de transporte (já que os vagões comportam mais carga que os caminhões); Redução do custo de transporte ferroviário em relação ao atual, devido à maior eficiência operacional propiciada pelos investimentos; Redução da emissão de poluentes devido à migração de cargas da rodovia para a ferrovia.

O país possui uma extensa rede ferroviária de 28.857 km de extensão, a décima maior rede do mundo. Atualmente o governo brasileiro, diferentemente do passado, procura incentivar esse meio de transporte; um exemplo desse incentivo é o projeto do Trem de Alta Velocidade Rio-São Paulo, um trem-bala que vai ligar as duas principias metrópoles do país.

Ferrovia Bahia-Minas

Quase 57 anos após ser desativada, a Ferrovia Bahia-Minas deve ser reconstruída e reativada. Na terça-feira, 07/02, foi publicada a deliberação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), por meio da diretoria colegiada, autorizando a construção e a exploração do trecho original de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha de Minas, a Caravelas, no Extremo-Sul da Bahia, totalizando 578 quilômetros.

A Porto Caravelas MTC Construção e Administração Portuária é a interessada em reativar a ferrovia. O prazo de concessão definido é de 98 anos. A empresa tem 30 dias para assinar o contrato, sob pena de perda de validade.

O objetivo principal da reativação da Bahia-Minas é o transporte de eucalipto até a fábrica da Suzano em Mucuri. O Vales do Jequitinhonha e Mucuri e o Norte de Minas possuem grandes áreas de cultivo da árvore, usada na produção de celulose.

Além do eucalipto, a ferrovia poderá ajudar a escoar a produção do Sul Baiano, como o cacau e outras frutas como melão e melancia, exportados para a Europa pelo Sudeste do país.

Outro produto que pode ser transportado pela ferrovia é o lítio. Atualmente, a Sigma Lithium, da boutique A10 Investimentos, investe pesado na construção de uma planta de extração entre os municípios de Araçuaí e Itinga, no Vale do Jequitinhonha, para produzir lítio de alta pureza, usado na produção de baterias. A expectativa é chegar à produção de 220 mil toneladas por ano de concentrado de lítio. O produto iria até Caravelas e de lá seguiria para Ilhéus, de onde pode ser exportado.

O turismo também poderá ser fomentado com a reativação da Bahia-Minas. Há a expectativa que haja trens ou vagões de passageiros, incrementando as atrações turísticas das regiões cortadas pela ferrovia.

Ponta de Areia

Ponta de Areia era o ponto inicial da Bahia-Minas, no munícipio de Caravelas. O local foi imortalizado em uma música composta pelo jornalista e compositor Fernando Brant, em parceria com o cantor e compositor Milton Nascimento.

Brant percorreu a ferrovia sete anos após a sua desativação, em 1973, para uma reportagem da revista O Cruzeiro, da qual era repórter. Construída a partir de 1881, a Bahia-Minas foi responsável pelo surgimento de vários povoados e cidades ao longo de seu percurso, além de integrar o Sul da Bahia e o Vale do Jequitinhonha economicamente a outras regiões pelo porto de Caravelas.

Sua desativação desolou estas localidades e os relatos colhidos durante a reportagem inspiraram a composição da canção, lançada por Milton em 1975.

Em 2015, o Jornal Estado de Minas fez uma reportagem sobre os 50 anos de desativação da ferrovia. Repórteres refizeram todo o trajeto e mostram o cenário de abandona da Bahia-Minas. Assista ao vídeo acima.

***Com reportagem de Tiago Marques da Agência Sertão.

Quer receber todas as nossas publicações com exclusividade? Faça parte do nosso grupo de leitores no WhattsApp. Acesse https://chat.whatsapp.com/IfZL4dQkjrS6m9NXLNmty2

Share

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *