ARTIGO – É normal idoso ter diminuição de seu apetite?
O idoso tem a perda da sensibilidade para gostos primários, ou seja, o doce, o amargo, o ácido e o salgado. Essa perda se dá através da diminuição das papilas gustativas, que ocorre naturalmente ao longo dos anos.
Isabelle Souza de Paiva Carvalho (*)
O envelhecimento é um fenômeno natural e inevitável dos seres vivos. Esse processo está associado a uma série de mudanças fisiológicas, de relacionamentos e de autonomia que podem provocar a perda de apetite. Essa anorexia pode ter consequências indesejáveis como a fragilidade física, aumento no número de quedas, perda muscular (sarcopenia) e desnutrição.
Em relação às mudanças fisiológicas, ocorrem alterações no funcionamento digestivo, na percepção sensorial e diminuição da sensibilidade à sede, que podem interferir, diretamente, no consumo alimentar.
O idoso tem a perda da sensibilidade para gostos primários, ou seja, o doce, o amargo, o ácido e o salgado. Essa perda se dá através da diminuição das papilas gustativas, que ocorre naturalmente ao longo dos anos. O sabor é reconhecido através do número de corpúsculos gustativos nas papilas linguais.
Em indivíduos jovens, esse número corresponde a mais de 250 corpúsculos para cada papila, enquanto nas pessoas acima de 70 anos esse valor cai para menos de 100. Isso significa que o idoso necessita de maior concentração de indutores de sabor nas refeições, ou seja, de temperos!
A mastigação eficaz também é importante para uma boa nutrição e com o envelhecimento, o ato de mastigar pode se tornar um desafio. A diminuição da capacidade mastigatória se dá pelo aparecimento frequente de doenças periodontais, que são: as próteses dentárias inadaptadas ou em péssimo estado de conservação, e, sobretudo, a ausência de dentes, que interferem igualmente no prazer de se alimentar.
Um estudo publicado na revista inglesa International Journal of Qualitative Studies on Health and Well-being, utilizando-se de doze participantes com idades entre 75 a 94 anos, tentou compreender as experiências de apetite na vida cotidiana dessas pessoas nessa adiantada faixa etária concluiu que sentimentos e reflexões estavam intimamente ligados à falta de apetite alimentar.
Logo pode-se ter a alimentação também relacionada a fatores emocionais. O isolamento social é um fator importante que contribui para o aparecimento da anorexia do envelhecimento (não querer se alimentar).
Para reverter esse quadro, indico sempre aos meus pacientes idosos que suas refeições sejam variadas, para não caírem na monotonia. Além disso, que sejam ricas em temperos naturais, como o açafrão, orégano, pimenta, limão, páprica, alho, alecrim e o tomilho.
Inicialmente alimentar-se com refeições líquidas como mingaus, sopas e vitaminas podem ser aliadas para facilitar a ingestão.
Em certos casos, é necessário o uso de suplementos. É fundamental buscar ajuda profissional para garantir melhor qualidade de vida.
(**) Pesquisadora da área médico-científica em estudos sobre alimentação, integrante do CNS – Nutrição e Saúde, com registro CRN 4 nº 21102627 no Conselho Federal de Nutrição.