A TRAGÉDIA DE SANTA MARIA E A JUSTIÇA DIVINA
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Roberto Cury
Trágico fim de semana em Santa Maria, cidade de cerca de 270 mil habitantes do Estado do Rio Grande do Sul, quando jovens estudantes universitários se feriram ou perderam a vida como consequência de um incêndio enquanto, na madrugada do domingo dia 27, assistiam a um show da Banda Gurizada Fandangueira, na boate Kiss, daquela terra gaúcha.
As notícias deste dia 30 de janeiro são de que 235 faleceram e os 143 feridos vêm sendo tratados nos hospitais de Santa Maria e também de Porto Alegre, sendo que os hospitalizados na Capital gaúcha recebem tratamentos especializados em face do estado crítico da mais extrema gravidade em que se encontram, resultado de queimaduras sofridas no incêndio ou por inalação da fumaça tóxica, intoxicação causada pelo gás cianeto, o mesmo usado nas câmaras de gás nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial.
Era, novamente, o princípio ativo do tristemente famoso Zyklon B dos campos de extermínio.
Segundo o pesquisador Anthony Wong, diretor médico do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP) trata-se de um dos venenos mais letais, por sua capacidade de paralisar os mecanismos de produção de energia das células, matando-as.
Pois o cianeto apareceu junto com a fuligem e o monóxido de carbono dentro da Kiss, como consequência da combustão dos materiais usados no revestimento acústico.
“Não tem cheiro nem cor e é capaz de matar em um prazo curtíssimo, de quatro a cinco minutos”, explica Wong.
Quando, nos idos de 1960, então, estudante de Química, na Faculdade Oswaldo Cruz, em São Paulo, n’um dos eventos laboratoriais conheci o ácido cianídrico (HCN), também conhecido como cianeto de hidrogênio, consequência do borbulhamento do gás cianídrico em água, de onde o gás retira o hidrogênio (H) na reação do ácido com esse elemento, resultando num composto fatal. Da mesma forma, se a reação se der na presença de potássio (k), o ácido cianídrico se transforma no temível cianeto de potássio (KCN), um veneno muito potente que interfere na condução do oxigênio às células do organismo.
O ácido cianídrico, gás altamente tóxico, se inalado, mata em 9 ou 10 segundos, o cianeto tem efeito um pouco mais lento.
A capacidade de expansão, altamente vertiginosa, desses gases é inimaginável para os leigos em química. Seus efeitos danosos provocam a intoxicação e a corrosão instantâneas, danificando, irremediavelmente, as vias aéreas, rompendo os brônquios, fazendo sangrar os bronquíolos, provocando a interrupção dos batimentos cardíacos e na consequente e irreversível parada cardiorrespiratória.
Daí para a morte cerebral não resta sequer mais nenhum passo.
O medicamento Hidroxocobalamina serve para combater a intoxicação causada pelo gás cianeto, quando aplicado antes que os efeitos se tornem irreversíveis.
Eventos dessa natureza e da magnitude em que ocorreu, causam impacto indescritível no povo que, ainda que solidário com as pessoas que perderam seus entes queridos, não consegue esconder a dor e o sofrimento, a consternação e as lágrimas que vêm naturalmente.
Entretanto, esse mesmo povo grita por justiça, mas, os gritos, na verdade não são para clamar a apuração dos culpados para que se cumpra a mais perfeita justiça terrena com o respeito aos direitos humanos. Representa na verdade a máscara da mágoa, do ódio, da vingança que a massa deseja como satisfação íntima de sua própria revolta, muitas vezes maior do que a dor dos próprios familiares dos entes que partiram, principalmente, se foram jovens que desencarnaram, eles que representavam o futuro do país, o orgulho dos pais, a esperança e a alegria da família e agora não mais existem.
Todas as grandes tragédias atuais guardam repercussão cada vez maior em face de que a mídia desenrola as notícias, em todo o mundo, em poucos segundos e isso provoca reações, nos povos, na medida da sua capacidade de observação, da sua compreensão e de seu discernimento.
Não raras vezes, as reações são as mais inusitadas.
A comoção popular está diretamente relacionada com a grandeza do evento infausto. Se foram muitas as pessoas vitimadas, a comoção é de um tamanho. Maior se crianças pereceram. Maior ainda se foram jovens universitários, como é o caso que se deu em Santa Maria.
Os efeitos colaterais da tragédia na terra gaúcha são inúmeros. Na segunda-feira, 28, um dia após o acontecimento, com tudo e com todos os que nele se envolveram, e foram muitas as pessoas e profissionais que desempenharam inúmeras tarefas na azáfama de salvar queimados e intoxicados pela fumaça venenosa, iniciou-se a “caída da ficha”. Taxistas e coveiros buscaram ajuda psicológica em Santa Maria, porém, muitos psicólogos deixaram de comparecer, esgotados em razão da intensa atividade no dia fatídico.
Acusações aos mais variados setores da sociedade civil e militar vieram a tona e até os bombeiros foram acusados pelo advogado de um dos proprietários da boate, como responsáveis pelo incêndio, eles que sempre se constituíram nos verdadeiros salvadores da humanidade nas situações de perigo. No dizer do advogado, os bombeiros seriam culpados por não terem efetuado a vistoria preventiva obrigatória imediatamente ao requerimento da empresa pertencente daquele estabelecimento.
Atitudes desse jaez são comuns, pois ninguém se sente culpado de nada, principalmente se for possível acusar uma ou outras pessoas.
A transferência da culpabilidade é inerente ao ser humano. Diante da justiça humana, muitas vezes, inocentes pagaram pelos verdadeiros culpados que, ou não apareceram, ou não foram descobertos.
Entretanto, nada acontece por acaso. Tudo tem uma razão de ser.
Se a justiça humana falha, como muitas vezes falhou em todos os países do Globo Terrestre, a Justiça Divina jamais falha, porquanto perfeita e aplicada pela consciência de cada um no cumprimento exato da Lei de Causa e Efeito. Sim, toda causa tem o seu efeito correspondente, como Jesus mesmo advertiu Simão Pedro que, desembainhando sua espada, decepara a orelha de um dos soldados que aprisionara o Mestre: – Pedro, Pedro quem com ferro fere, com ferro será ferido – enquanto colava a orelha no mesmo lugar de onde tinha sido arrancada.
Todos os grandes desastres, nos quais pereceram ou se feriram muitas pessoas, há sempre histórias daqueles que não chegaram a tempo de embarcarem no veículo sinistrado, ou não entraram ou saíram do prédio incendiado ou desabado, ou permaneceram no lugar de origem onde a onda avassaladora (tsunami) não chegou, ou que se retiraram pouco antes do terremoto atingir aquela região, ou… tantas outras inexplicáveis circunstâncias em que muitos foram tragados pelo abraço da morte e outros sequer foram tocados, mesmo de leve, pelos ventos mortais. Aqueles que não foram atingidos são pessoas que não estavam vinculados ao evento, consequência natural de causa anterior.
Diante da Justiça Divina, ninguém paga pelo erro alheio, como, também, ninguém é passível de julgamento incriminatório se nada deve.
As grandes tragédias, com a retirada de entes humanos, via de regra, são efeitos de outras em que os atuais retirantes foram responsáveis pela retirada de outros irmãos num passado recente ou longínquo.
Quantas tragédias o mundo terreno já presenciou, ou delas se tornou vítima?
Quantos incêndios em florestas dizimaram animais e seres humanos?
Os campos nazistas de extermínio em vários países; a dizimação dos povos conquistados por Átila, rei dos hunos; a arena romana onde leões devoraram cristãos; as batalhas do Peloponeso onde tantos pereceram; as guerras e guerrilhas americanas intervindo em territórios estrangeiros ocasionando um rastro de sangue; a santa inquisição que ceifou a vida de inocentes acusados injustamente, ora na fogueira, ora na decapitação, ora por enforcamento; a noite de São Bartolomeu em que milhares de protestantes foram assassinados pela intolerância religiosa; quantas outras tragédias são as causas das que hoje acontecem?
Vez ou outra, um fenômeno natural se incumbe de ser o braço executor da Justiça Divina, especialmente quando a Natureza tivera sido vilipendiada anteriormente.
Apesar da Justiça Divina pertencer a Deus, nosso Criador, nós, criaturas, somos as causadoras das nossas desgraças, dos nossos sofrimentos, dos nossos horrores. Consequentemente, sofremos os efeitos de nossos próprios atos.
Invariavelmente, porque nos cremos inocentes, as provas a que somos submetidos, muita vez, nos parecem imerecidas ou maiores do que imaginávamos, que nosso sofrimento é único e inquirimos Deus: – Por que Senhor? Por que?
Apesar de responsáveis, não aceitamos nada que nos atinja e mostramos claramente que não acreditamos em Deus ou que n’Ele não confiamos.
Felizes aqueles como Jó que jamais se rebelaram contra o Senhor da Vida: – O Senhor me deu, o Senhor me tirou. Bendito seja o Senhor!
Compreendamos que a dor que nos chega, principalmente aquelas que vieram oriundas de causas que nós provocamos, é a dor que burila o espírito, que nos faz mais compreensivos, que nos torna melhores discípulos da Bondade Divina.
Compartilhemos a dor dos nossos irmãos gaúchos, sejamos misericordiosos com seus sofrimentos, mas, jamais abandonemos a Confiança no Criador de tudo e de todos, pois Ele é o Senhor da Vida, a Fonte Suprema do Amor e que nos Eleva sempre que d’Ele precisamos.
Lembremo-nos de jamais atirarmos pedras em quem quer que seja, pois ainda que sejam muitas e fortes as nossas razões, jamais elas serão maiores do que a Felicidade que podemos viver ou ensejar ao nosso próximo.
Tiremos lições de cada tragédia e agradeçamos a Deus pela oportunidade do raciocínio, da busca da compreensão e vivamos, intensamente, o Bem Incomensurável que nos chega do Pai Celestial.
Conto
A CASA QUEIMADA
Autor desconhecido
Um certo homem saiu em uma viagem de avião. Era um homem temente a Deus, e sabia que Deus o protegeria. Durante a viagem, quando sobrevoavam o mar, um dos motores falhou e o piloto teve que fazer um pouso forçado no oceano. Quase todos morreram, mas o homem conseguiu agarrar-se a alguma coisa que o conservasse em cima da água. Ficou boiando á deriva durante muito tempo até que chegou a uma ilha não habitada.
Ao chegar à praia, cansado, porém vivo, agradeceu a Deus por este livramento maravilhoso da morte. Ele conseguiu se alimentar de peixes e ervas. Conseguiu derrubar algumas árvores e com muito esforço conseguiu construir uma casinha para ele. Não era bem uma casa, mas um abrigo tosco, com paus e folhas. Porém significava proteção. Ele ficou todo satisfeito e mais uma vez agradeceu a Deus, porque agora podia dormir sem medo dos animais selvagens que talvez pudessem existir na ilha.
Um dia, ele estava pescando e quando terminou, havia apanhado muitos peixes. Assim com comida abundante, estava satisfeito com o resultado da pesca. Porém, ao voltar-se na direção de sua casa, qual tamanha não foi sua decepção, ao ver sua casa toda incendiada. Ele se sentou em uma pedra chorando e dizendo em prantos:
“Deus! Como é que o Senhor podia deixar isto acontecer comigo? O Senhor sabe que eu preciso muito desta casa para poder me abrigar, e o Senhor deixou minha casa se queimar todinha. Deus, o Senhor não tem compaixão de mim?”
Neste mesmo momento uma mão pousou no seu ombro e ele ouviu uma voz dizendo:
“Vamos rapaz?”
Ele se virou para ver quem estava falando com ele, e qual não foi sua surpresa quando viu em sua frente um marinheiro todo fardado e dizendo:
“Vamos rapaz, nós viemos te buscar”.
“Mas como é possível? Como vocês souberam que eu estava aqui?”
“Ora, amigo! Vimos os seus sinais de fumaça pedindo socorro. O capitão ordenou que o navio parasse e me mandou vir lhe buscar naquele barco ali adiante.”
Os dois entraram no barco e assim o homem foi para o navio que o levaria em segurança de volta para os seus entes queridos.
Quantas vezes nossa “casa se queima” e nós gritamos como aquele homem gritou? Em Romanos 8:28 lemos que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus.
Às vezes, é muito difícil aceitar isto, mas é assim mesmo. É preciso crer e confiar!