VÍTIMA DA COVID-19 – Corpo do cantor Genival Lacerda segue para sepultamento na Paraíba
Enterro ocorre em Campina Grande, cidade natal do artista, nesta quinta-feira (7). Genival morreu aos 89 anos, vítima de complicações decorrentes da Covid-19.
O corpo do cantor e compositor Genival Lacerda, que morreu aos 89 anos em decorrência de complicações da Covid-19 na manhã desta quinta-feira (7), saiu do Hospital da Unimed I, na Ilha do Leite, na área central do Recife, por volta das 15h10. O enterro do artista paraibano ocorre em Campina Grande, cidade natal dele e que decretou luto de três dias.
O artista passou 38 dias internado. No local, um dos dez filhos dele, o também cantor João Lacerda, disse que a irreverência de “Seu Vavá” vai ficar marcada na memória da música brasileira. O cantor chegou ao hospital por volta das 14h, para resolver questões de documentação. Às 14h50 chegou ao local o carro da funerária que transportou o corpo.
“Meu pai realmente era uma luz divina, um grande artista do Brasil, uma grande personalidade da música brasileira, pernambucana, paraibana. Ele era o rei da munganga e, infelizmente, o rei da munganga nos deixou”, disse João Lacerda.
O corpo de Genival Lacerda seguiu para Campina Grande, na Paraíba, cidade em que nasceu. O pedido para que o sepultamento fosse na terra natal foi feito pelo próprio cantor, em vida, para ser enterrado junto ao corpo da mãe, Severina Lacerda. O cantor deixou dez filhos, além de netos e bisnetos.
“Infelizmente, foi o momento mais difícil da minha vida e, acredito, da vida de meu pai. E o coração não aguenta esse momento tão difícil na minha vida. Perdi um amigo, um irmão, um amigo para todas as horas. Meu pai era tudo para mim e eu não sei como vai ser daqui para frente”, declarou João Lacerda.
Genival Lacerda foi internado com sintomas da Covid-19 no dia 30 de novembro. Desde então ele teve duas pioras e chegou a receber uma transfusão de sangue. A família chegou a mobilizar uma campanha para abastecer os estoques dos hemocentros de Pernambuco.
Legado
Para o filho e herdeiro musical de Genival, João Lacerda, o cantor soube representar, com irreverência e muita criatividade, o que é ser nordestino.
“A irreverência dele é o que mais marca para o povo. A forma dele se apresentar, a camisa colorida, o chapéu, a alpercata, ele ser nordestino. Isso é importante. Deus fez o melhor para ele. Ele estava sofrendo muito com toda essa situação”, declarou.
O jogo de dominó na Praia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife; a música e a comida nordestina, segundo João Lacerda, eram os “esportes” preferidos do pai. Segundo ele, Genival é lembrado com muito carinho até mesmo por quem ele não era próximo.
“O carinho que ele tinha pelo próximo, pelos amigos do trabalho, pelos músicos, pelo seu público. Ele, sempre muito carinhoso com esse povo. E vamos agradecer a todo o povo, as orações nesse momento tão difícil, e eu nunca imaginei na minha vida passar esse momento. Mas Deus quis, o que a gente pode fazer?”, questionou.
Nas redes sociais, artistas e políticos lamentaram a morte de Genival Lacerda. Cantores também enviaram para a TV Globo mensagens em homenagem ao paraibano.
Internações
Genival estava internado no Recife desde o dia 30 de novembro de 2020 e foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele teve uma piora no estado de saúde na segunda-feira (4). Uma campanha de doação de sangue para o cantor foi iniciada pela família na quarta-feira (6).
Também no ano passado, mas em 26 de maio, Genival havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVC) e deu entrada no Hospital d’Ávila, na Zona Oeste da capital pernambucana, mas se recuperou e recebeu alta três dias após a internação.
Música
A carreira musical de 64 anos de Genival Lacerda foi marcada pelo bom humor e pela irreverência. Nascido em 5 de abril de 1931, ele foi um dos grandes nomes do forró e, com carisma, se tornou um ídolo popular, sendo conhecido por todo o Brasil e se tornando um símbolo da cultura do Nordeste.
O Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) divulgou uma lista com as 20 músicas do paraibano mais tocadas nos últimos cinco anos. O primeiro lugar ficou com “Severina xique-xique”, o principal clássico de Genival, que passou a morar no Recife em 1953.
O primeiro disco desse paraibano foi lançado no ano de 1956: um compacto duplo com “Coco de 56”, escrito por ele e João Vicente, além da canção “Dance o xaxado”, feito em parceria com Manoel Avelino.
Em 1964, Genival se mudou para o Rio de Janeiro, onde viveu durante o auge da popularidade do forró no Sudeste, convivendo com outros artistas fundamentais desse estilo musical, como Dominguinhos e Luiz Gonzaga.
A consagração nacional veio com “Severina Xique Xique”, de 1975. O refrão “ele tá de olho é na butique dela” virou sua marca. Entre outros sucessos do “seu Vavá”, como também era conhecido, estão “Radinho de pilha”, “Mate o véio” e “De quem é esse jegue”.
A volta ao Recife ocorreu durante a década de 1990. Genival ganhou, em 2016, o título de cidadão recifense da Câmara dos Vereadores. No final de 2017, recebeu no Palácio do Planalto a medalha da Ordem do Mérito Cultural (OMC).
Na sexta-feira (8), estava previsto o lançamento de uma canção de Genival com Zé Lezin, presente no DVD “Minha Estrada”, com a participação de artistas nordestinos e gravado no Teatro Boa Vista, em agosto 2019. Em 13 de dezembro, aniversário de Luiz Gonzaga, foi feito o primeiro lançamento de faixa. Ao todo, são 15 faixas, com um lançamento por mês nas redes sociais e plataformas digitais.
FONTE: G1 PE